Vice-governador da Bahia ameaça romper com o PT e se aliar a ACM Neto
Considerado traído, Leão ameaçou romper com o PT e migrar para o palanque do ex-prefeito de Salvador ACM Neto.
SALVADOR – As declarações do senador Jaques Wagner (PT) nos últimos dias não agradou o vice-governador da Bahia, João Leão (PP). Considerado traído, Leão ameaçou romper com o PT e migrar para o palanque do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) na disputa pelo governo do estado.
Caso não ocorra uma migração para a base de Neto, o PP confirmou que cogita lançar a candidatura própria de João Leão ao governo estadual, comportamento que contraria os interesses do PT.
A entrevista concedida pelo senador na segunda-feira (7), à rádio Metrópole de Salvador não agradou Leão, o qual afirmou que Wagner teria descumprindo alinhamentos construídos fruto de amplo diálogo.
Leão afirmou que o PP da Bahia precisa refletir sobre seu futuro nas eleições estaduais deste ano. Na quarta-feira (9), João Leão se manifestou por meio de nota à imprensa. “Estão sendo analisados alguns cenários. Um deles, o PP ter candidatura própria ao Governo da Bahia. O outro, compor com a chapa majoritária do ex-prefeito de Salvador e secretário-geral do União Brasil, ACM Neto”, escreveu Leão no Twitter.
De acordo com o Uol, o vice-governador externou chateação .Na ocasião, Wagner disse que o governador Rui Costa (PT) iria concluir o mandato de governador em dezembro e que o PT teria candidato próprio ao governo da Bahia —ainda com um nome a definir.
O próprio Jaques Wagner já comunicou oficialmente ao partido que não quer ser candidato. Até então, o principal cenário traçado nos bastidores era com Rui Costa saindo no início de abril do cargo de governador para se candidatar ao Senado. Com isso, João Leão assumiria o governo do estado por nove meses. Até a semana passada, o mais cotado para disputar o governo na chapa governista era o senador Otto Alencar (PSD-BA). No entanto, a sinalização de que isso poderia acontecer provocou uma rebelião interna no PT, mesmo após o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em paralelo, Otto indicou a aliados que prefere disputar a reeleição de senador. Nos bastidores, o PP não gostou de ouvir as falas de Jaques Wagner sem ter sido consultado antes. Nas redes sociais, prefeitos de cidades do interior intensificaram publicações enaltecendo características de João Leão, na tentativa de endossar seu nome para participar da chapa majoritária.
A declaração de João Leão nesta quarta foi proferida após uma reunião em Brasília pela manhã com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, principal líder nacional do PP, e com outros integrantes do partido, como o presidente da Câmara, Arthur Lira. Tanto Ciro Nogueira como Lira são aliados de primeira hora do governo Jair Bolsonaro (PL). Apesar de criticar Jaques Wagner, João Leão acenou a Lula e a Rui Costa, com quem teve uma reunião na segunda-feira (7).
“Qualquer decisão que o PP venha tomar sobre nossos rumos no estado será alinhada com as nossas bancadas, e também passará por uma conversa com o governador Rui Costa e com o ex-presidente Lula, com quem [o partido] esteve nos últimos dias”, disse o vice-governador. “Trabalhamos muito pelo nosso estado e o legado do PP precisa ser respeitado, da mesma forma como temos nutrido respeito por todos os nossos aliados”, completou.
Horas após a ameaça de Leão de romper com o PT, Jaques Wagner pediu desculpas ao vice-governador. Em entrevista ao site BNews, o senador afirmou: “peço desculpas a João Leão, [ao deputado federal] Cacá Leão, ao PP, tentei construir uma solução que tenho certeza que mora no coração deles, apesar do sentimento do momento, que é continuar nossa relação de 14 anos, e estou aqui para voltar a conversar”. Wagner também disse que é da vontade do PT e de Rui Costa seguir aliado do PP. No PT, após a desistência de Jaques Wagner, são cotados para serem indicados como candidato a governador a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, o secretário estadual de Relações Institucionais, Caetano, e secretário estadual de Educação, Jerônimo Rodrigues. Não está descartado, porém, um novo movimento para convencer Jaques Wagner a recuar da negativa para disputar o governo da Bahia.
O PT governa a Bahia desde 2007, com dois mandatos de Jaques Wagner e depois dois de Rui Costa, que está no último ano do governo. João Leão é vice de Rui desde que o petista assumiu o Palácio de Ondina, em 2015. Já Otto Alencar foi vice-governador no segundo mandato de Jaques Wagner e foi eleito senador em 2014 na mesma chapa de Rui e Leão. Antes aliado do ex-governador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), Otto virou aliado de Jaques Wagner e, atualmente, é amigo pessoal do petista. Além disso, é da confiança do expresidente Lula.
Após voltar de viagem ao México, Lula deverá se reunir nos próximos dias com Rui Costa e Jaques Wagner para encaminhar as definições da aliança na Bahia. Enquanto a base governista segue confusa, o ex-prefeito ACM Neto circulou por Brasília na terça (8) realizando articulações políticas. Ele conquistou o apoio do Solidariedade para a disputa na Bahia. A sigla, nacionalmente, deverá apoiar Lula, mas no estado fechou aliança com a oposição ao PT.
Por: Uol