Manga:Gesto é protesto silencioso contra pedido de cassação do mandato, diz vereador

Por:Luisclaudioguedes.com.br

Vereador
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O vereador Gil Mendes de Jesus, o Gil do Conselho Tutelar (PP), surpreendeu o plenário da Câmara Municipal de Manga, na noite da sexta-feira (7), ao usar uma espécie de mordaça durante a reunião ordinária quinzenal daquela Casa. Mendes entrou amordaçado e saiu calado da sessão, no que consegue conduzir sua atuação parlamentar de primeiro mandato para o ponto limite do bom senso – algo ente o institucional e o factoide meramente circense. Pândegas! Pândegas! Pândegas! Pura diversão e nonsense para quebrar a rotina e o clima de tédio que normalmente marca as reuniões da vereança manguense.

Segundo o vereador, o gesto foi repúdio silencioso à aprovação do requerimento de autoria do vereador Evilásio Amaro (PPS) que autoriza a abertura de processo de cassação do seu mandato, por suposta quebra de decoro parlamentar. O requerimento, com 30 laudas, foi aprovado por 7 votos a 1, há três semanas, e faz pormenorizado relato do que seriam as transgressões ao regimento interno por Gil Mendes, desde que assumiu o cargo para seu primeiro mandato, em janeiro de 2013.

A justificativa para a medida extrema da cassação seria o fato de que o vereador já passara por moções de censura em razão do ‘comportamento inadequado’ em relação aos demais parlamentares. Ainda que Gil tenha se tornado desafeto da maioria absoluta dos seus pares na Casa, a tendência é que receba apenas nova moção de censura ou outro tipo de advertência regimental, além da suspensão do exercício das atividades parlamentares por período ainda não definido.

Tarja preta

“A censura foi instrumento de repressão política usada durante a ditadura militar. Em tempos de democracia, isso acabou, porque a mesma pressupõe o respeito às diferenças, inclusive políticas”, argumenta o vereador. No final de sessão, no tempo destinado ao chamado pinga-fogo ou assuntos gerais, o presidente da Câmara, Leonardo Pinheiro (PSB), instou Gil Mendes a explicar os motivos do protesto. Gil preferiu ficar calado e apenas fez sinal negativo com o vai e vem do dedo indicador. “O presidente queria que eu falasse, amordaçado não fala”, brincou o vereador em contato telefônico com o site.

Nenhum dos oitos vereadores comentou a atitude do colega em plenário. Já nos bastidores, o gesto foi recebido com ironia e até galhofa. “O bom mesmo seria ele usar essa tarja preta até o final do mandato. Gil calado, é um poeta”, afirmou um deles, com pedido de anonimato. Outro parlamentar ouvido pelo site sugeriu que a medida seria uma sinalização tardia de mea-culpa por parte de Gil do Conselho Tutelar, uma espécie de reconhecimento de que falou demais até aqui, sempre de forma ofensiva aos seus colegas de mandato.

Gil Mendes parece mesmo ter conseguido o fato raro de ser unanimidade entre os seus pares, o que indica para sua cassação caso o pedido vá mesmo adiante. Unanimidade entre vereadores, por sinal, só ocorre em situações em que o corporativismo fala mais alto: votações para aumento dos próprios salários é a mais típica delas.

Briga de minoria

Curiosamente, o pedido para abertura do processo de cassação de Gil Mendes não partiu da bancada de situação ou da Prefeitura de Manga, administrada pelo PT de Anastácio Guedes. Quem quer ver Mendes pelas costas é o também oposicionista Evilásio Amaro, que alega ter sido ofendido em sua honra pelo colega com ‘palavras de baixo calão e calúnias’, durante pronunciamento no plenário da Casa no início do mês de agosto. A lavação de roupa suja entre Amaro e Gil Mendes foi parar no plenário, quando a Câmara de Manga passou por um dos momentos mais deploráveis da sua longa história.

Na ocasião, Gil Mendes pediu a palavra durante o grande expediente da reunião extraordinária realizada na quarta-feira, 6 de agosto, para fazer um duro pronunciamento contra o colega Amaro, de quem cobrava explicações sobre a autoria de boatos que circularam na cidade, dando conta de que, ele Gil, teria pedido R$ 7 mil para colocar a sua assinatura no requerimento que pede a instalação de CPI para apurar denúncia de que o microempresário manguense Silvano Ferreira de Souza teria sido usado como ‘laranja’ em contratos de prestação de serviço para o município na atual gestão.

Há pouco mais de um mês, logo após a sessão ordinária do dia 3 de outubro, Gil Mendes, o pândego, protagonizou duro bate-boca de bastidores com o presidente da Câmara, Leonardo Pinheiro (PSB). A discussão parece ter sido a gota d’água que promete fazer o copo de Mendes entornar. Os vereadores não comentam abertamente o caso, mas o que se comenta nos bastidores é que o vereador Gil Mendes ‘passou da conta’ nas críticas aos colegas. Resumo da ópera: o clima azedou e Gil está no fio da navalha, porque já teria sido advertido pela mesa diretora em algumas ocasiões e, ainda assim, não teria mudado o ‘comportamento’ inamistoso em relação aos seus pares.

No geral, os colegas reclamam da prepotência de Gil Mendes, que já chegou a se comparar ao ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Gil também é autor de matérias polêmicas, como o projeto que quer instituir quatro reuniões plenárias do Legislativo por mês, em lugar das duas atuais. Outro requerimento dele, ainda em fase de elaboração, vai pedir que o uso do paletó e gravata se torne obrigatório na Casa. Gil comparece devidamente paramentado a todas as sessões da Casa, mas o terno e grava não é unanimidade entre a vereança. A avaliação da vereança é que Mendes faz tudo para aparecer.

Prepotência

A bronca com Gil Mendes vem de longe, desde do início da atual legislativa. Logo após a posse, ele insinuou que haveria um suposto mercado de compra e venda de votos para eleição da presidência da Câmara, vencida por Leonardo Pinheiro. A acusação nunca se confirmou. Posteriormente, Mendes pediu abertura de sindicância para apurar o suposto sumiço de aparelhos de ar-condicionado durante a instalação do novo prédio da Câmara, há dois anos. Gil foi indicado para presidir a comissão de investigação, mas o assunto não avançou.

Em abril deste ano, a fervura da temperatura no plenário da Câmara de Manga parecia ter chegado ao limite. Mais uma vez. Tudo por conta das gabolices de Gil do Conselho Tutelar. Abespinhados, os colegas da bancada situacionista acusam Gil, vereador em primeiro mandato, de pousar com arrogância e prepotência nos recorrentes apelos que fazem plenário às normas regimentais e constitucionais para tentar ditar o ritmo dos trabalhos na Casa. Além das piadas jocosas que, volta e meia, lança mão para ‘descontrair’ o ambiente.

O clima piorou quando Mendes chamou os colegas da bancada governista de ‘fantoches dos coronéis da política local’. Na ocasião, Gil se levantava contra o posicionamento da turma governista nos episódios das aprovações das contas dos ex-prefeitos Humberto Salles (PSB) Haroldo Bandeira (PMDB), além de Quinquinha Oliveira (PT do B). Foi por essa época que Gil Mendes protagonizou um dos muito bate-boca com presidente Leonardo Pinheiro, por discordar da indicação do colega Hélio Boquinha para representar a Casa, na condição de ‘destaque’, em evento da vereança norte-mineira na cidade de Montes Claros.

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