A Ciência do cálculo eleitoral
Hoje eu queria usar a minha última máscara, portanto seria eu muito inútil e trouxa agradecer vossa Excelência, governador pela liberação. Há dois anos, quando essa loucura começou, nenhum de nós, mortais comuns, poderia imaginar o que nos aguardava.
Noticiário da panfletagem: O governador da Bahia, Rui Costa, autorizou, neste sábado (02), na Bahia a flexibilização do uso de máscaras a partir do mês de abril, se os números de contaminação de Covid-19 seguirem em queda. Sentado e se requebrando, mas sem máscara, estava o governador da Bahia, Rui Costa, que trancou milhões de pessoas em casa e ainda coage outras milhões de pessoas a usarem uma cueca inútil na face.
Hoje eu queria usar a minha última máscara, portanto seria eu muito inútil e trouxa agradecer vossa Excelência, governador pela liberação. Há dois anos, quando essa loucura começou, nenhum de nós, mortais comuns, poderia imaginar o que nos aguardava. As mortes foram lamentáveis? Sem dúvida. Mas há destinos piores do que a morte do corpo, e eu acredito que a civilização perdeu parte de sua alma com a pandemia. A máscara é o símbolo perfeito da nossa tragicomédia coletiva. Para além de todo benefício que contribui. Ela jamais protege 100% alguém, protegeu ou protegerá; antes, esconde, separa, divide, sufoca, marca e oprime. Sinaliza virtude, indica obediência, dificulta a expressão, oculta a realidade. Ao uniformizar e segregar, o maldito farrapo realiza o sonho totalitário dos filhos de Caim. A máscara esconde as culpas de quem jamais conseguirá pedir perdão.
E fomos obrigados a usá-la. Ela se tornou salvo-conduto e documento, atestado de bons antecedentes e certidão negativa, ingresso e passaporte, impressão digital e crachá. Fomos obrigados a usá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza ou na pobreza, até que a morte nos separasse. Casamos com a máscara ― mas foi um matrimônio forçado e inválido, sem as bênçãos de Deus. Quem não estava mascarado, era como se estivesse nu. Olhares de reprovação e reprimendas eram o preço a se pagar por essa indecência, por esse atentado aos bons costumes. Mascara-te, ou serás repudiado. Mascara-te, ou serás expulso. Mascara-te, ou serás lançado no gueto dos negacionistas. Fomos (e estamos sendo) cobaias do maior experimento de controle social já posto em prática. Aqueles que nos aplicaram o teste descobriram que sim, a maioria de nós obedece. A maioria esmagadora, no sentido exato do termo. Se quem manda é a autoridade ou a mídia, a maior parte da população fará qualquer coisa, pelo tempo que for necessário. As pessoas abriram da liberdade, da identidade, da privacidade, da vontade e da realidade. A obediência se tornou o ar que se respira ― ou melhor, que não se respira. Agora, as mesmas autoridades que nos quebraram as pernas dão-nos uma muleta à espera de que sejamos gratos. Dizem que podemos tirar as máscaras “em ambientes abertos”. Oferecem uma migalha do pão que nos roubaram. Ora, passem amanhã! Está pobre liberação não tem a nada há ver com ciência, comitê de enfrentamento, secretários, corpo técnico ou qualquer outra tentativa de querer nos enganar. Isso é jogo em ciência de cálculo eleitoral.
O ideal por detrás dos inúteis farrapos que nos obrigaram a usar no rosto é o exercício de poder totalitário, é o teatro mórbido que permite manter o estado de exceção criado pela tirania higienista. Você jamais deveria esquecer das crianças aprisionadas, das famílias divididas, das amizades destruídas, das lojas falidas, das escolas fechadas, dos empregos perdidos, das falências decretadas, das contas estouradas, do dinheiro roubado, dos tratamentos negados, dos médicos perseguidos, dos amigos censurados, dos pedestres açoitados nas praias, nas praças, nos parques. Que a última máscara seja a primeira página da condenação desses malvados.
“A melhor maneira de evitar que um prisioneiro escape é garantir que ele nunca saiba que está na prisão.” (Fiodor Dostoïevski).
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