Nilo Coelho admite conversas com o governador Eduardo Campos para 2014
Oposição por definição própria, Coelho admitiu que manteve conversas com o presidente nacional do PSB, governador Eduardo Campos, sobre uma virtual migração para a legenda, mas encontrou um obstáculo.
Mesmo longe dos holofotes da política estadual, o ex-governador Nilo Coelho mantém vivos os olhos no cenário local. Oposição por definição própria, Coelho admitiu que manteve conversas com o presidente nacional do PSB, governador Eduardo Campos, sobre uma virtual migração para a legenda, mas encontrou um obstáculo: a rejeição da senadora Lídice da Mata. “Acredito que não tenha espaço para os dois, porque eu cheguei a convidá-la para conversar e não encontrei, vamos dizer assim, o diálogo. Eu acredito que ela faça alguma rejeição ao meu nome”, criticou. Em entrevista à Tribuna, Coelho defendeu a união das oposições na Bahia e no Brasil e classificou que Eduardo Campos é um nome forte para mudanças no cenário nacional.
Tribuna – Afastado da política, está se dedicando mais ao lado empresarial. Ensaia voltar agora para a batalha política do dia-a-dia a partir do ano que vem?
Nilo Coelho – Eu gostaria de ajudar. Eu acho que todo cidadão, seja ele somente eleitor, ele tem obrigação de escolher o melhor. Pela participação política, pelo conhecimento que eu tenho de todo o estado da Bahia, eu gostaria de ajudar determinado candidato. Então, pensando nisso, eu não me afastei totalmente. Na eleição passada eu já fui junto com Paulo Souto candidato a vice. Você entra na política, mas não tem como sair.
Tribuna – O senhor continua filiado ao PSDB ou ensaiou realmente filiar ao PSB, o partido de Eduardo Campos e de Lídice da Mata?
Coelho – Eu continuo filiado ao PSDB. Numa visita que fiz ao governador Eduardo Campos, eu diria que sinalizei que eu estarei disposto a ajudá-lo se ele realmente viesse a ser candidato a presidente. Isso foi no mês de março ainda, a perspectiva era muito pequena, mas eu demonstrei que estaria com a disposição de ajudá-lo aqui na Bahia. Houve esse pensamento, mas… Os partidos no Brasil ainda são muito cartoriais. Os partidos deveriam ser mais democráticos, deviam sair mais da base, do eleitor, no diretório municipal, para chegar ao diretório regional e chegar ao diretório nacional. No entanto, os partidos são muito como se fossem verdadeiros feudos. É dono de um, é dono de outro. Isso aí muitas vezes dificulta a ampliação e o fortalecimento do partido. Não vou dizer que seria o caso desse ou daquele partido.
Tribuna – É o caso do PSB na Bahia?
Coelho – Não sei. Eu cheguei até, vamos dizer assim, levantar as condições do PSB aqui na Bahia. Vamos dizer, o que ele representava de municípios, de força política. Eu cheguei a levantar isso. Eu tinha vontade realmente de ajudar. Eu não tive a oportunidade de fazer. Então eu terminei optando mesmo para ficar no PSDB.
Tribuna – O senhor tem alguma possibilidade ainda de se tornar o plano B do Eduardo Campos aqui no estado?
Coelho – Olha, eu teria que tomar alguma atitude. Eu não posso estar no PSDB e apoiar o Eduardo. Eu teria que, às vezes, tomar uma atitude de mudança. Eu não sou candidato a nada, não estou pleiteando nenhuma candidatura, mas… Acho que nós, brasileiros, temos que pensar numa mudança. Eu não sou radical a nenhum partido. Quando o Lula foi eleito presidente, que a mensagem era a mensagem da ética, eu achei que isso era importante e que poderia dar certo. Foi uma decepção total. Hoje, eu vejo que tem que experimentar um outro caminho. Nós temos hoje dois caminhos que trazem mudança. O do Eduardo Campos, que se destacou como governador de Pernambuco, do PSB. E o outro do Aécio Neves, do PSDB, que eu sou ainda do partido. O Aécio foi também duas vezes governador de Minas, fez excelente administração. Essas duas forças têm que trabalhar em conjunto para que haja uma mudança do país. Seja ele para o Aécio, seja ele para o Eduardo. Mas é importante, é fundamental que haja o entendimento dos dois candidatos para que se possa realmente chegar a presidência da República.
Tribuna – Existe algum tipo de articulação para que o senhor possa fortalecer o palanque de Eduardo Campos e Marina Silva na Bahia?
Coelho – Eu não tive mais contato. Tive contato várias vezes com o Eduardo, tive também com o secretário dele, o Pedro Valadares, mas, pelas circunstâncias aqui da Bahia, nós não avançamos. Então não tive essa oportunidade de ajudar. O que eu queria realmente era ajudar e eu não estava pleiteando nenhuma candidatura.
Tribuna – O senhor, por estar afastado da política, sua própria família e alguns amigos mais próximos têm se colocado de forma contrária ao senhor retornar com força total para a política. Isso pode levar o senhor a reavaliar a posição ou o senhor está disposto a voltar para o enfrentamento político-partidário?
Coelho – Eu nunca digo que dessa água não beberei. Outra coisa importante é que o futuro a Deus pertence. Nós não podemos dizer que vamos fazer isso ou que vamos fazer aquilo. As circunstâncias às vezes nos levam a tomar posição. Aqui na Bahia nós temos agora também a eleição de governador. Você tem aí uma oposição que precisa se unir. Você tem grandes nomes, nomes capazes também de administrar o nosso estado, você tem o Paulo Souto, que já comprovou, você tem o (José Carlos) Aleluia, que foi um excelente deputado federal e está aí ajudando a administração do (ACM) Neto. Você tem o próprio Geddel (Vieira Lima). Tem uma série de candidatos que podem realmente. A grande preocupação hoje da oposição na Bahia é se unir. Ela tem que procurar se unir para construir o governo que os baianos querem. A Bahia que os baianos querem.
Tribuna – O senhor acha que essa unidade vai ser possível a partir de uma composição de chapa com quem? Quem o senhor aposta para liderar esse processo? Paulo Souto? Geddel? João Gualberto? O senhor?
Coelho – Não, eu estou fora. (risos) Você tem o Paulo Souto, você tem o Aleluia. O João Gualberto, apesar de ter sido prefeito de uma cidade pequena, Mata de São João, foi um excelente administrador. Você tem vários nomes. Você tem o prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo. A oposição tem nomes, nomes bons, capazes de fazer um bom governo. Eu apostaria num nome desses. Agora, o importante é buscar a unidade da oposição. É não ter aquela ambição: o candidato tem que ser fulano ou ciclano. Não. Vamos sentar na mesa, vamos buscar uma solução que seja a solução ideal para a Bahia. A Bahia está precisando realmente de ter um grande governador.
Tribuna – Qual o senhor acredita que deva ser o critério para escolher o candidato das oposições?
Coelho – Você tem o critério da pesquisa, o critério da rejeição. Você tem que olhar vários pontos. Quem melhor vai reunir os partidos, quem melhor vai fazer uma coligação juntando mais partidos dentro da sua candidatura. Essa avaliação tem que ser feita criteriosamente.
Tribuna – Existe alguma conversa nos bastidores que o senhor pode vir a assumir inclusive o comando do PSB, caso a senadora Lídice da Mata não deslanche como a candidata que o Eduardo Campos espera. Existe alguma possibilidade disso acontecer?
Coelho – (pausa) Eu não tenho nenhuma ligação com o PSB. A Lídice tem dito que vai ser candidata. Acho que ela prejudicou o Eduardo nas declarações de que queria ser candidata do (Jaques) Wagner. Ela não podia ser candidata do governador Jaques Wagner, não poderia ser já que ele tinha dito explicitamente que o candidato seria do PT. Ela alimentou uma coisa e passou o tempo. O importante não é a candidatura da Lídice ou outra candidatura qualquer. É o fortalecimento que precisava ser feito do partido na Bahia como um todo. Você tem o partido que as vezes numa cidade tem um vereador que teve 100 votos. Não representa nada para o partido. Você tinha que fazer um trabalho profundo de buscar prefeitos. Você tem as vezes o prefeito, o ex-prefeito, lideranças maiores nesses municípios. Para chamar para uma missão. E esse coisa não foi feita e se passou muito tempo.
Tribuna – O PSB é muito acanhado, é muito limitado ainda na Bahia, na visão do senhor, com as possibilidades que ele tem de crescimento?
Coelho – Olha, eu não enxergo o PSB como um partido pequeno. Mas um partido hoje que tem um candidato a presidência da República. Não tenho dúvidas de que o Eduardo é o candidato a presidente. A Marina foi para o PSB, mas eu não tenho dúvidas que o candidato será o Eduardo Campos. O partido realmente poderia ser um partido mais aberto, maior. Não se torne o partido de A ou de B. Mas um partido aberto, que pudesse crescer.
Tribuna – Dialogar internamente…
Coelho – Dialogar internamente. Não houve essa questão de diálogo.
Tribuna – Em 2010, o senhor foi candidato a vice na chapa de Paulo Souto e já chegou a entrada no PSB. O senhor teria algum problema de mudar de posição, de oposição para um partido ligado ao governo do estado aqui na Bahia? Teria algum tipo de mal-estar por causa disso?
Coelho – Com o atual governo? Eu prefiro ficar na oposição. Eu acho que o governo nesses últimos anos produziu muito pouco em benefício da Bahia. Quando eu pensei no PSB, você fala num partido com uma visão socialista. A Bahia há anos você dizia, no interior era muito comum, “você vai para onde, fulano?”. “Vou para a Bahia”. A Bahia era Salvador, era o recôncavo. A Bahia depois cresceu para a região do cacau. Mas a Bahia não foi toda a Bahia. Nunca se olhou para o município. No pequeno período em que eu estive no governo, eu procurei levar a nossa mensagem, o nosso trabalho para o interior. O oeste não existia antes do nosso apoio. O oeste veio depois. E a maior região produtora, é uma região altamente produtora agrícola. E assim nós procuramos integrar a Bahia. O que é que eu entendo? Que é preciso que se faça socialmente uma administração voltada para todo o estado. Como ela era só, antigamente, para a capital e a região do recôncavo.
Tribuna – O senhor acredita que a senadora Lídice da Mata vai ser candidata ao governo? Ela tem peso e densidade eleitoral para vencer essa disputa?
Coelho – Olha, eu acho que dela ser candidata, pode perfeitamente ser candidata. Não duvido que ela seja candidata. Agora, é difícil você fazer uma avaliação do peso político da senadora Lídice porque ela foi eleita junto do partido do governador, do PT. Então, quantos são os votos de Lídice? Quanto são os votos do PT? Essa votação que ela teve foi só dela? Ou seja votação está embutida a votação do PT? Eu não tenho nada contra Lídice. Eu desejo sucesso na sua campanha política para onde ela vá.
Tribuna – O senhor pode chegar para agregar ao partido ou não teria espaço para o senhor e para a senadora Lídice da Mata?
Coelho – (pausa) Acredito que não tenha espaço para os dois, porque eu cheguei a convidá-la para conversar, para dialogar e não encontrei, vamos dizer assim, o diálogo com a senadora. Eu acredito que ela faça alguma rejeição ao meu nome. E se ela faz a rejeição ao meu nome, paciência. Eu fiquei realmente no PSDB.
Tribuna – Uma chapa envolvendo Lídice da Mata e a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça, seria uma chapa forte, competitiva na avaliação do senhor?
Coelho – Eu acho a ministra Eliana Calmon uma pessoa fantástica. Inclusive, por coincidência, a Eliana foi para o Superior Tribunal de Justiça na época em que eu era governador. Eu tenho um respeito muito grande pela ministra e acho que ela enriquece qualquer que seja a chapa.
Tribuna – Como o senhor avalia o cenário da base do governo? Quem é o candidato do governador Jaques Wagner? O senhor acha que realmente é Rui Costa?
Coelho – A vontade é que seja o Rui Costa. E as notícias que tem é que ele inclusive declarou para a presidente de que o candidato dele seria o Rui Costa. Acho que o Walter Pinheiro tem trabalhado dentro do partido para ser candidato. O Sérgio Gabrielli seria mais uma questão de indicação do ex-presidente Lula. Mas eu acredito que o candidato da preferência do governador seja o Rui Costa.
Tribuna – Se for Rui Costa facilita a situação e a vida politica para as oposições? O senhor acredita que é mais fácil atingir uma vitória em 2014?
Coelho – Veja bem. A eleição se desenvolve a partir do início do próximo ano. A partir do mês de março, de abril, é que vão se definindo. Nós temos exemplos no país dos mais diversos possíveis. Você teve um (Fernando) Collor, que saiu de 1% na pesquisa e terminou presidente da República. Você teve um Orestes Quércia, que saiu com 2% em São Paulo e terminou governador de São Paulo. O próprio governador Jaques Wagner, que não acreditava nem em ir para o segundo turno, terminou vencendo as eleições. Essas mudanças são imprevisíveis.
Tribuna – Como o senhor avalia o governo Wagner? Qual o senhor considera ser o maior erro e o maior acerto da gestão dele?
Coelho – O governo Wagner está muito ligado as obras do governo federal. Você tem o programa, que é um programa bom do governo federal, o Minha Casa, Minha Vida, que hoje já tem 20% de inadimplência. E você tem um programa de Luz para Todos. São dois programas muito bons. O programa do estado em si, não se vê muito.
Tribuna – O senhor acredita que o governador Jaques Wagner, pelo que ele tem de trabalho mostrado até agora, vai ter dificuldade de construir e de viabilizar a eleição do sucessor dele?
Coelho – Creio que não vai ser fácil. Ele esteve recentemente inaugurando a via portuária. A via portuária, grande parte dela já tinha sido executada. Nós todos assistimos a inauguração, foi a Rótula do Abacaxi. Então foi uma complementação. Há uma inauguração parcial e uma reinauguração. Na realidade não é uma obra concluída nem feita agora.
Tribuna – O senhor acredita que a capacidade gerencial do governo do PT vai ser um dos principais debates durante a campanha do próximo ano? A capacidade de resolver os problemas da coletividade?
Coelho – Olha, o grande problema do governo do PT, que está aí na praça, nas ruas, nos comentários, nos tribunais, em tudo, é a corrupção. A corrupção vai realmente abalar o governo do PT nessa próxima eleição. Eu acredito nisso. Todas as manifestações que tiveram de rua era o passe livre, saúde, educação, todas elas tinham conotação bem menor que o combate a corrupção. Em primeiro lugar, todas as pesquisas que foram feitas, era contra a corrupção. Em segundo vinha passe livre, educação, saúde e etc. Em primeiro lugar, todas as pesquisas apontavam o principal motivo a corrupção.
Tribuna – No cenário nacional, a gente tem a junção de dois polos importantes, o governador Eduardo Campos e a ex-senadora Marina Silva. Quem o senhor acredita que vai partir para o enfrentamento e assumir essa candidatura? Qual dos dois o senhor acredita que tem mais chance de se viabilizar, já que o governador Eduardo Campos não é tão conhecido do grande público?
Coelho – O Collor não era conhecido, mas tinha o ponto certo e venceu as eleições. Pelo trabalho que ele fez como governador, eu não tenho dúvida que o nome certo para a cabeça de chapa seria o Eduardo. A Marina ajuda e ajuda muito. Mas o nome certo para a cabeça de chapa é do Eduardo. Agora Eduardo, Marina e Aécio têm que estar (pausa) plenamente entendidos para que possa vencer nesse segundo turno. Se não vencer no primeiro, mas vencer no segundo turno. É muito importante que eles se mantenham um plano até de palanque para atender os dois candidatos. Eu acho até que possível isso.
Tribuna – Apesar do próprio núcleo do PSDB e do próprio PSB vetar essa possibilidade e tentar construir palanques isolados nos estados. Mas o senhor acredita que, nos cenários que a gente tem aqui na Bahia, a eleição nacional vai ser um fator importante na definição do cenário aqui no estado?
Coelho – Ao longo dos últimos anos, toda eleição de presidente teve influência muito grande para eleição de governador. Eu espero uma mudança. O Brasil precisa de mudança. Aeconomia internacional, os grandes economistas do mundo inteiro têm feito críticas a nossa política econômica. Nós precisamos de mudança. Acredito que a hora chegou. Você tem nomes muito bons para a mudança, do Eduardo e do Aécio. Não tenho dúvida de que o momento é esse.
Por Osvaldo Lyra/ Tribuna da Bahia
Edição www folhadovale.net