Historiadores reavaliam a Proclamação da República 129 anos depois
De fato, em 1884, cinco anos antes da data histórica, apenas três republicanos conseguiram se eleger para a Câmara dos Deputados e, eleição seguinte, somente um
Nesta quinta-feira (15), o Brasil comemora o aniversário da implantação do regime republicano, que encerrou 67 anos de período monárquico no País. A República brasileira foi instalada pelas mãos dos militares em 1889, tendo à frente o marechal alagoano Deodoro da Fonseca.
Passados 129 anos, a mudança de regime ainda suscita muitos debates e vem passando por um processo de revisão histórica. Para o movimento monarquista, a proclamação foi, ao contrário do que diz a história oficial, um golpe de uma minoria escravocrata aliada aos grandes latifundiários, aos militares, a segmentos da Igreja e da Maçonaria. A tese do golpe é apoiada, por exemplo, pelo historiador José Murilo de Carvalho, que escreveu o livro “O pecado original da República”.
Como em outros períodos da história do Brasil, foi um movimento ao qual a maior parte da população permaneceu alheia. Os civis republicanos eram uma escassa minoria espalhada pelo País, mas souberam explorar os constantes atritos que o Exército passou a ter com os governos imperiais.
O jornalista e historiador Laurentino Gomes, autor do livro “1889”, afirma que, na época da proclamação, a campanha republicana não tinha ressonância nas urnas. De fato, em 1884, cinco anos antes da data histórica, apenas três republicanos conseguiram se eleger para a Câmara dos Deputados e, eleição seguinte, somente um.
Laurentino diz que Deodoro foi usado pelos conspiradores e deu um golpe na Monarquia mais por um ressentimento pessoal do que por convicções republicanos. Afinal, o marechal alagoano era muito amigo do imperador D. Pedro II.
Segundo o historiador, em nenhum momento do dia 15 de novembro Deodoro proclamou a República, ao contrário do que diz a História oficial. “Aparentemente, o objetivo inicial dele não era derrubar a monarquia, mas apenas destituir o ministro da Guerra, o Visconde de Ouro Preto. Ele só muda de opinião na madrugada do dia 16, ao saber que o imperador havia convidado para chefiar o ministério o seu principal adversário, o senador Gaspar da Silveira Martins, um liberal do Rio Grande do Sul. Os dois eram adversários não só na vida política, mas também na vida pessoal”, relata.
Mocidade militar
A República brasileira teve como catalisador um grupo de oficiais de patentes inferiores do Exército que possuíam educação superior ou “científica” obtida durante o curso da Escola Militar, então localizada na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Era a chamada “mocidade militar”, fortemente influenciada pelas ideias do francês Auguste Comte, considerado o pai do positivismo. Comte apoiava os ideais da Revolução Francesa, que incluíam o fim da Monarquia, a ampliação dos direitos individuais e a separação entre Estado e religião.
Ainda na avaliação de Laurentino Gomes, a própria monarquia plantou a semente de sua destruição. “O império caiu inerte. Não houve quem defendesse a monarquia no Brasil, nem o próprio imperador, que achava que aquilo não ia dar em nada”, afirmou o historiador em entrevista ao jornal O Globo.
Segundo eles, vários fatores se somaram para a queda da monarquia. Após a Guerra do Paraguai, cresceu a insatisfação no Exército, que se sentia desprestigiado. Os embates entre a Igreja Católica e a Maçonaria também respingaram no império. Possivelmente, o golpe fatal foi dado com a abolição da escravatura, que gerou grande descontentamento dos grandes fazendeiros, grande base de apoio do regime. A partir daí, foi só uma questão de tempo para o fim do império, sem nenhuma resistência.
Por Fábio Costa | Portal Gazetaweb.com