Em pé de briga com a Câmara de Vereadores, prefeito atrasa até salários de servidor

O pacote de assessoramento de Oliva inclui atuação junto ao Ministério Público e a repercussão das ações contra o prefeito no blog que mantém na internet e, posteriormente, em redes sociais.

O prefeito de Montalvânia, Jordão Medrado (PR), está sob fogo cerrado da Câmara de Vereadores local desde que, por uma barbeiragem política, perdeu o controle da mesa diretora da Casa, no final de 2013. Naquela ocasião, o vereador aliado e contraparente Wilson Viana (DEM) tentou impor sua candidatura à Presidência da Câmara, mas entrou em rota de colisão com o colega Ney Cássio Dias da Silva, o Ney da Delegacia (PSDB), que até então era o presidente da Câmara. Os dois divergiram por leituras opostas do regimento interno sobre pontos da eleição para a mesa. Jordão não percebeu ou não teve condições de apagar o incêndio.

Por conta desse atrito, o vereador Ney Cássio rompeu com o grupo do prefeito e se aliou à oposição para eleger o atual presidente da Câmara, o professor Gildenes Justiniano Silva(PTB), ligado ao ex-prefeito José Ornelas, o provável adversário de Jordão nas eleições de outubro próximo. Gildenes virou a pedra no sapato do prefeito Jordão, que, em enfrentamento mais recente, não conseguiu aprovar a autorização legislativa para tomar financiamento de R$ 800 mil junto ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).

A briga com Gildenes fez com que Jordão perdesse a estreita maioria que tinha na Câmara (seis votos a cinco). Desde então, o voto do ex-aliado Ney da Delegacia virou moeda incerta – ora a favor, ora contra. Com a chegada deste ano eleitoral, o presidente Gildenes Silva resolveu radicalizar e agora comanda a oposição à administração Jordão Medrado.

Partiram do prédio da Câmara, por exemplo, as recentes investidas de críticas e denúncias contra o prefeito, que ganharam corpo depois que Gildenes contratou o advogado Fábio Oliva com assessor jurídico da Casa. O pacote de assessoramento de Oliva inclui atuação junto ao Ministério Público e a repercussão das ações contra o prefeito no blog que mantém na internet e, posteriormente, em redes sociais.

Orientado por Oliva, o presidente comanda a bancada da oposição na Câmara no novo figurino de fiscal do povo. No final de dezembro, um grupo de vereadores foi a Montes Claros visitar a Casa de Passagem que a Prefeitura de Montalvânia de Montalvânia mantém na cidade, para abrigar pacientes em trânsito. Notícia publicada no Blog do Fábio Oliva mostrou que a Casa não oferece “condições higiênico-sanitárias mínimas para funcionar”. Dias depois, a turma denunciou atrasos na reforma do Mercado Municipal. A obra deveria ter sido bancada com recursos do Ministério da Agricultura, mas até agora o desmanche que se fez por lá foram pagos com recursos do município.

Mas o golpe mais duro contra a gestão Medrado veio nesta semana com a revelação do ex-assessor de imprensa da Prefeitura Fernando Abreu dando conta que a administração atrasou o pagamento dos servidores do mês de dezembro. Abreu trocou a prefeitura de Montalvânia pela de Manga, há um ano, mas é contratado pelo vereador e presidente Gildenes para prestar manutenção no site da Câmara de Montalvânia. Segundo Fernando Abreu, e com base em informação de uma fonte conhecedora dos bastidores da administração de Jordão Medrado, os salários de dezembro deverão ser pagos apenas no final deste mês.

O atraso teria sido causado pela retenção de parte dos repasses compulsórios do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) do município para pagamento de dívidas da Prefeitura junto ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). A dor de cabeça para o prefeito Jordão é que o funcionalismo cochanino já nem se lembrada mais o que era ficar sem receber. A Prefeitura de Montalvânia aboliu a prática há cerca de 15 anos, justamente nos dois mandatos do ex-prefeito e médico José Florisval de Ornelas (2001/2008), o nome agora cotado para enfrentar Jordão nas urnas.

Problemas domésticos

Ornelas ameaça retornar, apesar da idade (ele está com 75 anos), e hoje seria o favorito para ganhar as eleições em Montalvânia. O prefeito Jordão Medrado faz mistério quando indagado se vai concorrer à reeleição nas eleições de outubro. Medrado diz que vai reunir seu grupo político somente em março, quando a questão será colocada em debate. O prefeito faz um pouco de cena, porque não é razoável supor que vá abrir mão da prerrogativa de concorrer à possibilidade de ficar no cargo por mais quatro anos.

O governo Jordão não é ruim e até resgata certo apelo à modernidade que relembra o dinamismo do ‘pai da pátria’ local, o criador do município e seu primeiro prefeito, Antônio Montalvâo. As dificuldades do atual mandatário está na condução de problemas mais domésticos, da convivência com parentes e contraparentes no entorno da administração – além de mau assessoriamento. Três dos seis secretários da administração são parentes do prefeito – sem falar de outros ocupantes de cargo de menor relevância. Os cunhados Renato Viana Filho (Saúde) e Herbeth Viana e Silva (Administração), além do irmão Evangelista Lopes Medrado (Governo) têm convivência pouco amistosa – o que envolve, ainda que involuntariamente, a primeira-dama, Bety Viana.

O pivô da briga com a Câmara, o vereador Wilson, carrega o mesmo sobrenome dos secretários e da primeira-dama. Mas tudo isso é de pouca relevância em pequenos municípios, onde a população não dá muita bola para assuntos como nepotismo. A nova encrenca de Jordão é o atraso no pagamento dos salários dos servidores em ano eleitoral. Isso costuma gerar efeito cascata ao longo do tempo e potencializar os efeitos da crise financeira no município. Os sinais de que alguma não ia bem com as contas da Prefeitura começaram no segundo semestre do ano passado, com vazamentos aqui e ali de atrasos nas obrigações com fornecedores.

O site tentou ouvir o prefeito Jordão sobre o assunto, mas ele não retornou aos contatos. O prefeito entrou em contato com o autor destas linhas recentemente, quando minimizou os atritos na base aliada e falou das dificuldades que enfrentou até achar o time ideal para a gestão da máquina pública local. Na ocasião, ele se comparou a um técnico de futebol que precisa fazer várias experiências até achar a ocasião ideal. Jordão propôs, espontaneamente, publicar a tradicional mensagem de Natal no alto desta página – o que, obviamente, não tem a menor interferência na forma como o site cobriria editorialmente os temas da administração.

 

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