CARINHANHA, TERRA DO JÁ TEVE

Você que é do meu tempo, lembra mais o que tinha em Carinhanha e não tem mais? Completa o que não há mais, não falando nos vapores, o melhor transporte para os ribeirinhos.

Por Honorato Ribeiro dos Santos

Carinhanha já foi o maior município do mundo, pois abrangia Correntina, Santa Maria da Vitória, São Feliz do Coribe, Coribe, Cocos, Feira da Mata, Malhada e Iuiú. Estes hoje já são emancipados. Havia duas usinas de algodão e arroz; um Mercado Municipal que recebia os produtos perecíveis e não perecíveis vindos de Cocos, Coribe e Mata: arroz de casca, rapadura, tijolo, requeijão, queijo, cebola, alho, tocinho, banha de porco, carne seca de jabá, feijão, milho, laranja, manga rosa, banana, lima, farinha de mandioca, tapioca, algodão, maniçoba, borracha, coco licuri, pele de onça, de jacaré, de gato do mato, de jibóia, toda esta fartura vinda em tropas de mulas, burros, jumentos e cavalos guiadas pelos heróis tropeiro vendidos aos comerciantes e população. Havia a coletoria federal, estadual e o IBGE. Havia, também, a Comissão do Vale do São Francisco com escritório, engenheiro, secretaria e cooperativa que vendia ferramentas agrícolas para os lavradores mais barato. Serviço de rádio a mors. Havia duas linhas de avião da Sadia e da Varig que, cada um pegava 40 passageiros. Havia dois clubes sociais: Clube Cultural Recreativo Dois de Julho e a Liga Operária Beneficente de Carinhanha; e mais tarde o Pontal Clube; dois cines, o Real e o cine Carinhanha. Havia a Liga Desportiva de Futebol registrada em Salvador com sua diretoria. Sendo diretor esportivo Alair Souza Lima. Os times eram: Helena de Tróia, Carinhanha, São José, Operário e o Santa Cruz, que aos domingos o povo e banda de música, soldados da polícia para dar segurança, bilheteria para o campeonato municipal; jogos da seleção contra Manga, Malhada, Palmas de Monte Alto, Caio Martins, hoje, Juvenília, Cocos, Montalvânia, Januária, Correntina. Futebol das moças que rolava uma bola! Filarmônica havia duas a da Liga Operária e a Euterpe 19 de Abril. Orquestra havia a do Clube 2 de Julho e a da Liga Operária. Os carnavais de rua havia rainha, princesas e rei momo no carro alegórico. Escola de samba e caretagem, o urso, vaqueiro, o laçador, as fantasias com vestimentas de piorrô, palhaço, serpentinas, laça perfume, marchas, frevos e sambas carnavalescos. Os matinês nas casas das famílias. Os ternos no mês de janeiro: Terno das Magnólias, terno dos Marinheiros, terno dos Arigós, terno das Gaúchas, terno do Jaburu, terno da Barquinha, terno dos Bombeiros Musicais, ternos das Ciganas, terno das Borboletas, terno de Romeu e Julieta, reis de caixa, contra dança. As quitandeiras que fabricavam as quitandas: doce de leite, de umbu, de coco, de buriti, de goiaba, de mamão; bolo de milho, bolo frito de arroz e de milho, bolo de puba, ginete, biscoito voador beiju de lenço, beiju de tapioca, beiju de maça de mandioca, arroz de leite, biscoito escaldado, garapa de cana, maduro com bicarbonato para escumar como cerveja. Que delícia! Tudo se acabou e o tempo levou, só ficaram as lembranças e as saudades. Você que é do meu tempo, lembra mais o que tinha em Carinhanha e não tem mais? Completa o que não há mais, não falando nos vapores, o melhor transporte para os ribeirinhos.

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