Entidade que representa ciganos denúncia tortura cometida por policiais de Vitória da Conquista

Uma idosa de 82 anos e três adolescentes foram agredidos, as vítimas são parentes dos suspeitos de assinarem dois policias militares na zona rural de Vitória da Conquista no mês de julho.

VITÓRIA DA CONQUISTA – O presidente do Instituto Cigano do Brasil (ICB), Rogerio Ribeiro, denunciou que uma idosa de 82 anos e três adolescentes de etnias ciganas foram vítimas de tontura por polícias em Vitória da Conquista, localizado na região Sudoeste do Estado. O caso foi relatado durante uma entrevista ao Ponte Jornalismo, organização sem fins lucrativos que defende os direitos humanos por meio do jornalismo.

À reportagem, o presidente do ICB disse que a entidade está monitorando as vítimas após relatarem os atos de tortura. Elas são parentes dos suspeitos de assinarem dois policias militares na zona rural de Vitória da Conquista no mês de julho.

Instituto Cigano do Brasil diz que está monitorando uma idosa e três adolescentes que teriam sofrido tortura | Fotos: arquivo pessoal

“No dia do crime, o Arlan e o Dalvan (irmãos suspeitos de participação no duplo homicídio) bateram na porta dessa senhora, entregaram uma arma para ela guardar e ela assustada guardou a arma num pé de banana”, conta. “Vizinhos disseram que tinha essa movimentação na casa dela, os policiais chegaram lá por volta das 14h, entraram na casa e começaram a fazer perguntas e ameaça-las”, prossegue. “Um adolescente falou da arma e eles [policiais] começaram a bater e eles explicaram que não tinham nada a ver, foi recolhida essa arma e começou a sessão de tortura”, denuncia.

A Ponte pediu para entrevistar os quatro, mas Ribeiro diz que estão receosos e que foram levados a outra cidade. De acordo com relatos do presidente do ICB, uma menina de 15 anos teve seu cabelo parcialmente cortado com canivete, além de ser agredida. Uma idosa sofreu tortura, levou socos e apanhou na mão com palmatória. Já os meninos foram golpeados com cassetete nas costas e nos pés, houve ainda a tentativa de fazer com que os meninos bebessem água sanitária.

Após as agressões, os policiais teriam dado duas horas para a família sair da cidade. “Eles pegaram roupas, colocaram numa sacola, conseguiram arrumar um carro para levar para outro município e fizemos uma articulação para retirar eles de lá”, diz ele, que ficou quatro dias em Vitória da Conquista após a instituição receber denúncias de abusos por moradores de origem cigana.

A reportagem afirma que tanto o investigador que conversou com o site quanto a assessoria da Polícia Civil, disseram que a arma do tenente Luciano foi encontrada no dia 22 de julho, “após a PM receber denúncia de que a mesma estava em um terreno baldio, no distrito de José Gonçalves em Conquista”, sem mais detalhes sobre como foi encontrada.

O site também questionou se a Defensoria Pública havia tido conhecimento dessas denúncias e a assessoria do órgão negou, informando que está atuando apenas no caso das cinco mulheres e sete crianças para as quais havia conseguido abrigo provisório. “Pedimos entrevista com as defensoras que estão acompanhando a família, que se recusaram a falar com a reportagem”, disse a Ponte.

Diversas entidades ciganas, pesquisadores e ativistas haviam emitido uma nota conjunta no dia 15 de julho solicitando providências das autoridades e denunciam que “vários carros de famílias ciganas foram queimados e casas invadidas e queimadas também, sem autorização judicial” e que ao menos 15 pessoas teriam sido baleadas. “Uma comunidade inteira sofrer e morrer por atos cometidos que devem ser encaminhados para as instâncias jurídicas, evidência a violência, o despreparo e as injustiças cometidas pela polícia militar na Bahia. Assim, exigimos que todos os órgãos públicos e de direitos humanos interfiram imediatamente nessa situação, garantindo o direito à vida de todos os ciganos que moram em Vitória da Conquista e cidades do Estado da Bahia”, diz trecho do texto.

Sobre a queima de casas e carros, a PM disse à época que os incêndios foram provocados provavelmente pelos próprios ciganos após a fuga, com o intuito de destruir provas que pudessem facilitar suas identidades. Em relação às pessoas baleadas, como expresso pela nota do ICB, a polícia informou desconhecer a situação. Já sobre a denúncia de tortura, não houve esclarecimentos.

Com informações da Agência Sertão

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