Movimento Negro Unificado de Caetité emite nota de repúdio contra ação da Polícia Militar
Dai Black foi atingido na perna por um disparo de arma de fogo na madrugada de domingo (26), feito por um policial na 8º Carnaval da Diversidade e a 33ª Lavagem da Esquina do Padre, em Caetité.
CAETITÉ – O Movimento Negro Unificado de Caetité emitiu uma nota se manifestando contra a ação da Polícia Militar durante o 8º Carnaval da Diversidade e a 33ª Lavagem da Esquina do Padre, que terminou com duas pessoas baleadas, na madrugada de domingo, 26 de janeiro.
O Movimento Negro Unificado criticou os policiais da 94ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) de agir com truculência e racismo contra Jailton Crispim Arruda (Dai Black), de 33 anos, que foi baleado na perna, algemado e arrastado pelo circuito até receber socorro na Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
No documento assinado pelos integrantes do Movimento Negro Unificado, eles afirmam que esse tipo de ação faz parte de uma grande estrutura e institucionalização que compreende como racismo, tendo em vista que Dai Black é uma pessoa conhecida pela sua educação e o carisma na cidade. A ação foi ainda classificada como agressão á comunidade negra.
De acordo com os integrantes do movimento, é lamentável que o comandante da 94ª não emitiu nenhuma nota sobre o ocorrido e quais providências foram adotadas para apurar e punir os responsáveis envolvidos.
Procurado pelo site Agência Sertão, o Major Wellignton Cirilo Costa respondeu que providencias estão sendo tomadas e que as respostas estão sendo dadas às vítimas e seus advogados. Questionado sobre o Movimento Negro Unificado, o Major afirmou que já se colocou à disposição para prestar os devidos esclarecimentos.
“Na quinta-feira (30) visitei ferida e estou em contato direto com a família do Dai Black. A corporação não está sendo omissa, inclusive um relatório foi encaminhado para a Secretária de Segurança Pública (SSP), assim como um inquérito policial já foi instaurado”,disse o Major.
NOTA DE REPÚDIO DO MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO
– CAETITÉ- BA
JOVEM NEGRO LEVA TIRO DA PM NO PRÉ-CARNAVAL
DE CAETITÉ
Na madrugada do dia 26 de
janeiro de 2020, na Avenida Santana de Caetité-Ba, durante a 33ª Lavagem da
Esquina do Padre, o jovem negro, Jailton Crispim Arruda, popularmente conhecido
como Dai Black, foi alvejado com dois tiros na perna, disparados por um
Policial Militar, sob o absurdo argumento de que teria tentado tomar a arma de
um PM. Os disparos efetuados atingiram, ainda, uma foliona que estava próximo,
numa ação imprudente que expôs toda uma multidão ao risco de vida.
Testemunhas alegam que Dai
Black, estava dançando durante a festa com um grupo de amigos e, após a PM
esbarrar nele, foi surpreendido com uma abordagem truculenta que originou os
disparos do PM. Baleado, Dai Black foi algemado e obrigado a caminhar com
extrema dificuldade (às vezes arrastado) do local da ação até o ponto de apoio
da polícia, na Praça da Catedral.
Durante o percurso, ele sofreu
violência física (socos e pontapés), moral e psicológica, além da humilhação
pública, pois, os foliões sem o conhecimento dos fatos, aplaudiram a ação
desastrosa da PM.
Na sequência da fatídica
abordagem, Dai Black foi jogado no camburão e levado à UPA, onde ficou até o
amanhecer do dia internado e algemado, sob a custódia ilegal da PM.
Este tipo de atuação faz parte
de uma grande estrutura e institucionalização do que se compreende como
racismo, visto que Dai Black é conhecido pela educação e carisma por todos de
Caetité, o que leva a crer que não é apenas um tiro na perna de Dai Black, mas
sim uma ação que constitui agressão à comunidade negra.
Tal afirmativa se sustenta no
fato de que pesquisas e dados científicos comprovam que 75,5% das vítimas de
homicídio no País, são negras. (Atlas da Violência: estudo publicado no dia
05/06/2019 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública). Desta forma, a taxa de mortes chega a 43,1
por 100 mil habitantes e, para não negros, a taxa é de 16%.
A sociedade não pode assistir
a tudo isso em silêncio e, nós do Movimento Negro Unificado de Caetité, não
vamos nos calar diante deste absurdo, que silenciosamente grita o racismo
explícito, caracterizado na ação absurda do PM. É questionável tal conduta, uma
vez que existem normas de abordagem policial a serem cumpridas, às quais nem
sempre funcionam para os jovens negros, tendo em vista a violência e a bala que
chegam sempre antes, como se nossas vidas nada valessem.
Numa alusão ao abolicionista
Castro Alves, sabemos que o camburão tem sangue de Navio Negreiro, reconhecemos
isso como condição pertencente a um processo histórico de colonização e
escravidão que insiste em marginalizar e assassinar os corpos dos negros e dos
periféricos.
As autoridades, os sites e
meios de comunicação locais, não se pronunciaram durante todo o domingo (apenas
um ou outro de maneira tímida) e até o momento, não há posicionamento de
nenhuma entidade ou nota oficial emitida pelo Comando da PM, nem tampouco da
organização da festa. Os responsáveis por esta ação desastrada, trágica,
infeliz e extremamente racista, bem como os responsáveis pelo evento devem uma
resposta para a sociedade caetiteense, sobretudo, ao povo preto e ao povo da
periferia urgentemente. Exigimos que esse silêncio seja quebrado e que seja
feita justiça. Sabemos que a força da chibata está com quem usa farda e é braço
direito do Estado. Não iremos nos calar como ora fazem as autoridades e os
meios de comunicação local, estamos organizados e realizaremos um amplo debate
e mobilizações em Caetité.
*VIDAS NEGRAS IMPORTAM!!!!
PAREM DE VIOLENTAR A POPULAÇÃO
NEGRA !!!!*
Assinam essa carta: Levante
Popular da Juventude; Coletivo Feminista Marias – Alto Sertão; Associação
Brasileira de Pesquisadores Negros; Diretório Central dos estudantes da UNEB;
Juventude Manifesta; Consulta Popular; PSOL; Coletivo Feminista Obá Elekó/ VCA;
Movimento Estudantil de Educação Física – UNEB XII, Abayomi Organização de
Mulheres Negras; Rede de Mulheres Negras da Bahia; Coletivo de Mulheres Negras
Luíza Bairros.