Policial mais velho de Minas Gerais morre aos 112 anos em Montalvânia
Morreu na noite de sexta-feira (16) em Montalvânia, aos 112 anos o policial mais velho de Minas Gerais.
MONTALVÂNIA – O policial aposentado Olímpio Martins Pires, de 112 anos, reconhecido pela PM/MG como o mais velho militar do Estado, faleceu na noite de sexta-feira (16) na cidade de Manga, no Norte de Minas. Ele morreu de causas naturais.
Nascido no dia 24 de agosto de 1908, em Araçuaí, o 3° Sargento chegou à Manga dia 5 de outubro de 1940, ainda soldado, quando o efetivo da PM era de apenas oito homens e possuía apenas uma viatura.
De acordo com o jornalista Fernando Abreu, muita pesquisar não foi encontrado nenhum registro de outro militar mais velho no Brasil, portanto, possivelmente ele é também o mais velho militar do país
Este ano as comemorações de seu aniversário não terão a mesma pompa e alegria dos anos anteriores devido à pandemia do novo coronavírus, mas a família mandou fazer um bolo e, um número restrito de familiares irá cantar os parabéns pra você, “pois a data não pode passar em branco, afinal são 112 anos de muita alegria”, diz a neta Valéria Martins.
O velho sargento possui vitalidade, educação, simpatia, gentileza e carisma extraordinários.
Leva uma vida simples, em Manga – MG, assistido por filhas, netos e profissionais que se revezam em seu cuidado.
Sem problemas de saúde que o impeçam de levar uma vida normal, cheira rapé e toma uma dose diária de cachaça, que ele chama de “pileque” e não dispensa feijoada, buchada e mocotó.
Perguntado sobre o segredo de sua longevidade ele diz, calma e mansamente, que nunca foi de fazer extravagâncias, nunca fumou e nem se embriagou. Quando perguntei se as comidas pesadas não fazem mal, ele disse, sorridente:
– Comia e como até hoje! Mas sempre fiz e ainda faço tudo com moderação. Essas comidas são apenas de vez em quando e uma pequena porção, só para matar a vontade, nada de exageros. O segredo de viver muito e não cometer exageros, disse com seu incrível bom humor.
Olímpio Martins Pires nasceu em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, no dia 24 de agosto de 1908, filho do dono de engenho de cana-de-açúcar e casa de farinha, Armindo Martins dos Santos, e da dona de casa Rosenda Soares dos Santos.
Passou sua infância em Araçuaí, ajudando o pai a fazer rapadura e a melhor farinha da região. Teve mais oito irmãos. Ainda rapazinho entrou para a Polícia Militar de Minas Gerais, em Belo Horizonte, por influência do tio José Martins Pinto, então sargento da PM.
Como soldado da PM, participou das Revoluções de 1930, de 1932 e de outros movimentos armados, onde viu muitos colegas morrerem e, conta com muita tristeza, teve que enterrar os seus corpos.
Em 1953, já como Cabo foi homenageado pelo Governo de Minas através do Decreto de Nº 4.123 reconhecendo seus serviços prestados nestas revoluções e o promovendo a 3º Sargento.
Tinha a função, além de soldado, também de delegado, promotor e juiz de Direito já que na época, esses profissionais não existiam por aqui.
A precariedade era tão grande que os malfeitores eram presos em sua própria casa, em um quartinho nos fundos chamado de Casa da Tenda, onde funcionava também uma marcenaria, que era seu hobby.
Certa vez, levou uma facada de um prisioneiro, próximo ao umbigo, que quase tirou o velho sargento de cena. Mas foi apenas um susto.
Diz com certa inocência, que não vê diferença da Polícia Militar daquela época para a dos dias de hoje.
– É a mesma coisa. Não mudou nada, divaga o Velho Sargento. Aposentou-se há mais de 40 anos. Sempre foi e ainda é um apaixonado pela profissão e pela PM. Conta com exatidão que trabalhou durante 33 anos, 1 mês e 18 dias sem nunca ter tirado férias. Por quê? Porque não havia outro profissional que o substituísse e ele não podia deixar a cidade sem ordem e sem Lei.
Possui o Número de Polícia 3.197, mas não há registros da data de sua entrada na PM e ele, por mais que tentasse, não conseguia lembrar. Mas isso não importa, o que importa é seu trabalho realizado e o grande amor à profissão que sempre teve.
Serviu em cidades como Belo Horizonte, Araçuaí, Diamantina, São Francisco, São Sebastião dos Poções – importante centro comercial da época, hoje distrito de Montalvânia, e Manga, onde vive até hoje.
Aos 29 anos casou-se, em Rio Pardo de Minas, com Joana dos Santos, de 14 anos. Esperou por 10 anos para que a então menina Joana criasse mais corpo para poder engravidar e ter seu primeiro filho já na cidade de Manga.
Tiveram nove filhos: Armindo, Neide, Elza, Maria da Ascenção, João Batista, José Olímpio, Cleonice, Raimundo e Geraldo. João Batista e Geraldo já são falecidos e José Olímpio e Raimundo são também sargentos da PM. O casal possui ainda 22 netos e cerca de 30 bisnetos.
Sargento Olímpio viveu uma linda história de amor com a esposa dona Joana, a Janinha, como ele a tratava carinhosamente. Sempre viveram em harmonia, nunca tiveram uma única desavença em 78 anos de casados, segundo ele. Tratavam-se com amor, amizade e respeito como se fossem recém-casados.
Dona Joaninha faleceu de morte natural, em 2018. A perda da esposa causou uma imensa tristeza ao velho militar, que viveu com ela uma linda história de amor. Viveram apaixonados como recém casados, sem nunca terem tido uma única discussão, garante ele.
Muitos achavam que o velho sargento não iria suportar a dor da perda da esposa e também iria partir, mas, apesar de ficar bastante abatido, permanece forte, lúcido e cheio de vida, no auge dos seus 112 anos.
Durante a pandemia do novo coronavírus as duas filhas que cuidam dele pediram aos netos para evitar visitas e mudaram alguns hábitos, como o uso da máscara de proteção evitaram de tomar a bênção, o que foi notado pelo velho e observador militar. Foi aí que as filhas falaram para o pai sobre a pandemia, mas ele não entendeu muito bem e elas também não fizeram questão. E assim continua sua vida: simples, saudável e feliz, no alto de seus 112 anos de idade.
Um homem que fez história, esposo, pai e profissional dedicado e amoroso, que amou e ama a família e a profissão. Em tempos difíceis, de muita dificuldade, desempenhou em Manga e em todas as cidades por onde passou, um trabalho exemplar.
A história deste grande homem continua sendo escrita. Um ícone da cultura e da história manguense e da Polícia Militar de MG. Um mito, uma lenda vida.
Viva o sargento Olímpio!
Por: Fernando Abreu